Se olharmos para o passado recente das empresas portuguesas no que diz respeito aos drivers de competitividade, nas décadas de 1970/80 foi o imperativo da produtividade, depois da qualidade, depois da incorporação de mais conhecimento e valor acrescentado, depois da transformação digital, hoje é o da sustentabilidade. Porquê? Porque a generalidade dos stakeholders assim o exige – reguladores, investidores, clientes, trabalhadores e comunidades impactadas –, e porque a sustentabilidade é, hoje, a maior fonte de oportunidades de investimento e negócio, com muitos dos seus mercados a crescer a dois dígitos ou mais.
Mas vejamos com maior detalhe. A sustentabilidade tem vários benefícios para as empresas, o primeiro dias quais contribuir para a sua eficiência operativa e financeira. Ao reduzir a intensidade de uso de matérias-primas, energia, água ou quaisquer outros recursos no processo produtivo, bem como a produção de resíduos, poluição ou emissão de gases com efeito de estufa, a empresa melhora diretamente a sua rentabilidade económico-financeira.
Mas a sustentabilidade é, também, fundamental como medida de gestão de risco para os investidores. Fazendo uma análise do último Global Risks Report do World Economic Forum, rapidamente se constata que a maioria dos riscos que se considerem ter maior probabilidade de ocorrência e impacto estão relacionados com o tema da sustentabilidade (ambiental e social). Não se trata apenas de procurar mitigar os riscos decorrentes, por exemplo, das alterações climáticas, da rutura ou aumento do preço das matérias-primas, por via da sua escassez (convém não esquecer que o seu stock é finito), ou os riscos reputacionais (hoje, um tweet facilmente arruína a reputação de uma empresa que levou anos a construir – por exemplo, quando estas se envolvem com fábricas que recorrem a trabalho infantil, ou não respeitam a igualdade de género, ou dão informações erradas acerca das suas emissões, ou provocam desastres ambientais). Cada vez mais, as empresas que não forem sustentáveis, isto é, que não integrem bem os fatores ESG (environmental, social e corporate governance), terão de pagar um prémio de risco, o qual será cada vez maior.
A evolução no comportamento das bolsas, nos EUA e na Europa, em 2020, durante a pandemia, é uma prova eloquente de que os investidores já consideram as empresas sustentáveis mais competitivas e resilientes.
A sustentabilidade tem, ainda, duas outras grandes virtudes: por um lado, confere propósito aos produtos e à atividade da empresa – o que é muito importante para os seus clientes e trabalhadores; por outro, é uma excelente oportunidade de investimento.
No que diz respeito ao propósito, trata-se de uma variável cada vez mais importante para a fidelização de clientes, sobretudo da geração millennial e Z, os quais desejam poder fazer do consumo um ato de cidadania. Por outro lado, a atração e retenção de talento dependerá cada vez mais da capacidade da empresa ter um propósito maior do que apenas ser lucrativa. Não faltam estudos que o comprovam.
Já no que diz respeito à oportunidade de investimento, só o Pacto Ecológico Europeu vai investir mais de um bilião (um milhão de milhões) de euros até 2030 e Portugal irá investir 2 mil milhões por ano na economia verde, até 2027. Mas o fenómeno do investimento na sustentabilidade é global e transversal a setores público e privado. No que diz respeito aos privados, em 2020, os valores investidos em fundos de investimento ESG e em obrigações verdes, bateram todas as expetativas e recordes históricos.
Por ser um driver cada vez mais forte de competitividade, são cada vez mais abundantes os artigos de consultoras de gestão estratégica, como a McKinsey, e de escolas de gestão, como Harvard ou o MIT, a defender que esta deve passar a ter um papel central na cultura organizacional, nas políticas de inovação, nas escolhas de tecnologias, nas opções de design ou de materiais dos produtos, entre tantas outras dimensões que compõem as decisões estratégicas e quotidianas que as empresas têm de tomar no seu dia-a-dia para serem competitivas. Sendo certo que cada vez mais empresas não querem ser as melhores do mundo, mas sim as melhores para o mundo.