entrevista ao imvf para a quidnews 30

Instituto Marquês de Valle Flôr

Acredita que as tecnologias digitais podem apoiar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)? Se sim, consegue indicar-nos os objetivos em que a tecnologia tem maior potencial de impacto?

Sim, as tecnologias digitais, quando devidamente utilizadas, regulamentadas e aplicadas a diferentes setores, podem ter um papel essencial no cumprimento dos ODS na sua globalidade. As tecnologias digitais assumem um papel essencial na criação de soluções médicas e na melhoria do acesso à saúde (ODS 3), no acesso ao conhecimento e à educação (ODS 4), no crescimento económico e criação de emprego (ODS 8), na garantia de instituições justas e eficazes e transparentes (ODS 16), e na procura de soluções e inovações tecnológicas e sustentáveis nos setores produtivos (ODS 7, 9 e 12), ao nível da ação climática e proteção da biodiversidade e ecossistemas, tanto em matéria de mobilização global, advocacy e sensibilização, como ao nível do conhecimento científico e desenvolvimento de soluções específicas para mitigação dos efeitos das alterações climáticas (ODS 13, 14 e 15).

As tecnologias digitais também contribuem para o cumprimento da maioria dos ODS ao constituir um setor transversal, atualmente primordial a praticamente todos os eixos do desenvolvimento, para além da sua aplicação a setores específicos do desenvolvimento Ainda de forma transversal, as tecnologias digitais podem ter um papel essencial na redução das desigualdades, particularmente no acesso a serviços e conhecimento.

De uma maneira global, as tecnologias digitais representam um instrumento essencial para conduzir as transformações necessárias à construção de um mundo mais sustentável. No entanto, é crucial garantir que a progressão e evolução do setor se faz de maneira inclusiva, garantindo que o acesso à tecnologia digital e aos benefícios por ela gerados chegam a partes do mundo que atualmente carecem de uma infraestrutura digital, reforçando o seu papel e impacto direto no desenvolvimento sustentável – “going digital with purpose”.

E quais as áreas que melhor podem usufruir da tecnologia?

As áreas da Saúde e Ciência, Educação, Ambiente e Sustentabilidade e Indústria.

Em comparação com 2015, altura em que as Nações Unidas desenharam e adotaram os ODS, a conjuntura socioeconómica está totalmente diferente devido à pandemia, que veio dificultar o cumprimento do programa. A 10 anos da meta, parece-lhe ainda possível atingirmos estes Objetivos?

Tal como dá conta o mais recente relatório de Desenvolvimento Sustentável 2020, que reporta os avanços realizados no alcance das metas traçadas na Agenda 2030, os esforços encetados até à data têm sido insuficientes para garantir as mudanças estruturais necessárias para o alcance dos ODS. De facto, apesar de se constatarem melhorias significativas em áreas como a saúde materno-infantil, na expansão do acesso à eletricidade ou o aumento da representação de mulheres em posições de governação, estes esforços são “negativamente contrabalançados” por recuos em áreas como a crescente insegurança alimentar, a deterioração do ambiente natural e a persistência de desigualdades generalizadas.

Hoje já sabemos que os impactos sociais, económicos e ambientais provocados pela pandemia de COVID-19 terão um impacto devastador na prossecução das metas dos ODS. Para mais, são os mais pobres e vulneráveis – incluindo crianças, idosos, pessoas com deficiência, migrantes e refugiados, e mulheres – os mais duramente atingidos pelos efeitos da pandemia COVID-19. Neste contexto, será necessário garantir um maior impulso às políticas e processos de desenvolvimento que vão garantir que “não deixamos ninguém para trás”. Uma abordagem mais robusta e multiator que seja o garante de um processo assertivo e eficaz de desenvolvimento.

Como podemos recuperar este ano durante a próxima década?

A atual pandemia de COVID-19 representa, simultaneamente, um enorme desafio e uma oportunidade para avançar na direção da Agenda 2030 e dos ODS. Apesar de todos os desafios acima referidos, a necessidade de reestruturação imposta pela emergência pandémica representa uma oportunidade para repensar e re-conceber áreas-chave das nossas economias e sociedades.

Neste sentido, a próxima década será essencial para assegurar a transição para economias sustentáveis e justas, a construção de sistemas alimentares sustentáveis, a consecução da descarbonização energética e do acesso universal à energia, a promoção do desenvolvimento urbano sustentável e a preservação dos recursos ambientais globais. No entanto, para atingir estes e outros objetivos, será essencial garantir a eficácia, responsabilidade e justiça das instituições (ODS 16) e ainda promover o estabelecimento de parcerias e soluções conjuntas a vários níveis e múltiplas dimensões sociais, económicos e institucionais (ODS 17).

De que forma é que uma empresa como a Quidgest pode impulsionar o plano dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?

Uma empresa como a Quidgest pode ter um papel essencial ao contribuir com conhecimento técnico e tecnológico específico em várias dimensões e áreas temáticas, contribuindo com soluções especializadas a desafios concretos de desenvolvimento. Neste sentido, o desenvolvimento de parcerias com organizações com um conhecimento e experiência transversal e de terreno na área do desenvolvimento revela-se extremamente importante. A nível organizacional e de governança é fundamental que a empresa cumpra com os princípios sociais e ambientais necessários para assegurar um modelo de negócio justo e sustentável.

Sublinhamos ainda que, pelo papel de destaque que desempenha no setor, a Quidgest pode advogar pelo respeito dos direitos humanos e ambientais em toda a cadeia de valor global do negócio. É fundamental que todos os atores de desenvolvimento unam esforços, para garantir que a justiça social e a justiça climática, alicerçadas no respeito pelos direitos humanos, são transversais a toda a área de negócio.

O trabalho do IMVF é desenvolvido no terreno, junto das comunidades. Nesse sentido, gostaríamos de tentar perceber quais foram os avanços conseguidos desde 2015 e se o apoio vindo de organizações governamentais e privadas tem crescido desde então?

Em termos da atividade do IMVF, os avanços alcançados desde 2015 prendem-se sobretudo com a capacidade de assegurar intervenções continuadas e de longa duração em áreas como a saúde em São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau, o turismo sustentável em Cabo Verde, a sociedade civil e produção pecuária na Guiné Bissau, e ainda a Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global em Portugal e na Europa. Para mais, a expansão da atividade a novas geografias, como a Colômbia e a Gâmbia, veio trazer novos desafios e oportunidades de crescimento.

Neste contexto, o financiamento de organizações governamentais como a União Europeia ou o Camões, I.P. tem sido essencial, financiando projetos e permitindo assegurar não só uma continuidade estratégica da nossa intervenção, garantindo resultados a médio e longo-prazo, como também a resposta a problemáticas emergentes, tais como a consolidação do processo de paz na Colômbia ou a colmatação das causas profundas da migração irregular na Gâmbia.

Ao longo destes anos têm sido celebradas algumas parcerias com organizações privadas, em que estas realizam contributos concretos para projetos já existentes. Na maioria dos casos, o apoio prestado por empresas privadas traduz-se na doação de material e recursos, contribuição com recursos humanos e apoio técnico e expertise em áreas concretas.

Dois exemplos deste tipo de parcerias:

Apresentação pública: Cooperação e Inovação – Consultas de Telemedicina entre Lisboa e São Tomé no Hospital CUF Infante Santo

Projeto Territórios Sustentáveis para a Paz em Caquetá: Mota Engil apoia construção de troço viário

Os últimos meses alteraram de alguma forma o apoio prestado por entidades governamentais e privadas às comunidades a que prestam apoio?

De uma maneira geral, os últimos meses exigiram uma adaptação global da maneira como funcionamos enquanto organização, particularmente no terreno. Foi necessário assegurar que as atividades e projetos continuavam a decorrer, implementando medidas que garantissem a segurança das nossas equipas e beneficiários. Para mais, em alguns casos de atividades concretas que, pelas suas caraterísticas, se revelavam impossíveis de concretizar em contexto pandémico, os valores orçamentados foram, com o incentivo das entidades financiadoras, reorientados para atividades de prevenção e mitigação da COVID-19 (compra e distribuição de materiais de proteção; campanhas de informação e sensibilização, etc.).

Para mais, uma parte das entidades financiadoras com que trabalhamos abriram fundos excecionais dedicados exclusivamente à prevenção e combate da COVID-19 e colmatação dos efeitos económicos e sociais gerados pela pandemia, financiando novos projetos nestas áreas (Projeto de Apoio à Resposta à Pandemia de COVID-19 em São Tomé e Príncipe; Apoio à Resposta à Pandemia de COVID-19 na Guiné Bissau; e SUPERAR a Pandemia nas ilhas de Santo Antão, São Vicente e Maio).

Diria que a formação em disciplinas relacionadas com informática seria um passo para o cumprimento de vários Objetivos? Se sim, de que forma é que as empresas tecnológicas podem impulsionar este plano?

Sem dúvida. Muitas vezes, mesmo quando o desafio do acesso à tecnologia é superado pela disponibilização de meios tecnológicos, os benefícios gerados por esses recursos revelam-se reduzidos devido à insuficiente capacidade existente para a sua utilização. Assim, assegurar a formação e acompanhamento, a par da disponibilização de recursos tecnológicos, revela-se essencial.

Neste sentido, empresas tecnológicas como a Quidgest, podem, em parceria com ONG e outras organizações que trabalham diretamente no terreno, disponibilizar recursos humanos e tecnológicos (pacotes de formação direcionada/adaptada ao contexto etc.) que permitam assegurar a capacitação informática e mesmo tecnológica, em áreas mais específicas, e num sentido mais lato, incentivar o desenvolvimento e facilitar o acesso a um número crescente de tecnologias, serviços e aplicações informáticas que possam ser utilizadas em prol de formas de desenvolvimento económico, social e ambiental mais justas e sustentáveis.

Diria que a formação em disciplinas relacionadas com informática seria um passo para o cumprimento de vários Objetivos? Se sim, de que forma é que as empresas tecnológicas podem impulsionar este plano?

Sem dúvida. Muitas vezes, mesmo quando o desafio do acesso à tecnologia é superado pela disponibilização de meios tecnológicos, os benefícios gerados por esses recursos revelam-se reduzidos devido à insuficiente capacidade existente para a sua utilização. Assim, assegurar a formação e acompanhamento, a par da disponibilização de recursos tecnológicos, revela-se essencial. Neste sentido, empresas tecnológicas como a Quidgest, podem, em parceria com ONG e outras organizações que trabalham diretamente no terreno, disponibilizar recursos humanos e tecnológicos (pacotes de formação direcionada/adaptada ao contexto etc.) que permitam assegurar a capacitação informática e mesmo tecnológica, em áreas mais específicas, e num sentido mais lato, incentivar o desenvolvimento e facilitar o acesso a um número crescente de tecnologias, serviços e aplicações informáticas que possam ser utilizadas em prol de formas de desenvolvimento económico, social e ambiental mais justas e sustentáveis.

  Esta entrevista faz parte da Quidnews #30. Veja a revista completa aqui.

SOBRE

A Quidgest é uma empresa tecnológica global, com sede em Lisboa, e pioneira na modelação e geração inteligente de software. Através da plataforma exclusiva de IA generativa Genio desenvolve sistemas complexos, urgentes e específicos, prontos a evoluir continuamente, flexíveis e escaláveis, para várias tecnologias e plataformas. Parceiros e grandes organizações, como governos, empresas multinacionais e instituições multilaterais globais usam as soluções da Quidgest para alcançar as suas estratégias digitais.

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