Aprender, desaprender e reaprender continuamente com a GenAI*
Nos anos 70, Alvin Toffler, um visionário da sua época, afirmou: “Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender”. Esta observação perspicaz, feita há mais de meio século, ecoa com particular relevância no atual cenário digital, em rápida evolução. A Inteligência Artificial Generativa (GenAI) está na vanguarda deste paradigma e parece corporizar, na perfeição, a previsão de Toffler ao promover uma cultura de aprendizagem e adaptabilidade contínuas.
De facto, a GenAI pode ser aproveitada para desenvolver competências, otimizar a aprendizagem ao longo da vida e desafiar (pelo caminho) alguns preconceitos, numa era digital em constante transformação. Aqui estão cinco exemplos que ilustram esta realidade:
- Experiências de aprendizagem personalizadas: A GenAI está a revolucionar a formação e o desenvolvimento profissional, possibilitando caminhos de aprendizagem personalizados que se adaptam a estilos, ritmos e interesses de aprendizagem individuais. Esta abordagem não só torna a aprendizagem mais envolvente e eficaz, como também a alinha com os objetivos e planos de carreira. O relatório do Grupo Adecco “Global Workforce of the Future Report 2023” refere que a GenAI se prepara para substituir muitas competências técnicas. Contudo, verifica-se um aumento proporcional na valorização de competências interpessoais no local de trabalho. No contexto de RH, isto significa que os colaboradores passam a estar capacitados para desenvolver competências (hard e soft skills), cada vez mais relevantes, de uma forma contínua que se ajusta às suas funções em permanente evolução. No final, tanto o crescimento pessoal como o organizacional saem beneficiados.
- Ecossistemas de aprendizagem corporativa adaptativos: A GenAI é um catalisador para desenvolver sistemas de aprendizagem adaptativos, que evoluem com a interação e o feedback dos utilizadores, como destaca a investigação “How People Can Create – and Destroy – Value with Generative AI”, levada a cabo pelo BCG em parceria com a Harvard Business School, a Wharton, o MIT, entre outros. Estes sistemas são capazes de identificar os desafios dos formandos, ajustar os conteúdos formativos e os níveis de dificuldade. Em ambientes corporativos, tal integração é vital para o desenvolvimento profissional contínuo. O mesmo estudo sublinha a necessidade das organizações criarem programas de atualização de competências e gestão de talento, de forma a preparar os colaboradores para um local de trabalho fortemente impactado pela GenAI, equipando-os com competências e conhecimentos atuais e relevantes.
- Análise preditiva na gestão de talento: Ao assimilar as tendências de mercado atuais, os dados de desempenho dos colaboradores em função da estratégia organizacional traçada, entre outras previsões relevantes de cada setor, a GenAI ajuda os profissionais de RH a identificar os principais requisitos de competências futuros. Esta abordagem, como sublinha o artigo da SHRM “Predictive Analytics Can Help Companies Manage Talent”, permite que as organizações tomem decisões mais assertivas e baseadas em evidências. Através da análise dos dados passados e presentes, as empresas podem prever necessidades futuras de competências e identificar riscos de atrito, podendo aumentar a adoção da análise preditiva em quase 50% em apenas três anos. Tal previsão é crucial para a formação e o desenvolvimento de uma força de trabalho preparada para os desafios e o progresso tecnológico emergentes.
- Mitigação de preconceitos através da análise de dados: A GenAI é crucial para identificar e corrigir práticas e preconceitos dentro das estruturas organizacionais. Ao analisar grandes conjuntos de dados, a GenAI revela vieses conscientes e inconscientes em áreas como contratação, gestão e cultura do local de trabalho. Técnicas avançadas como ‘adversarial training’, ‘data augmentation’ e ‘re-sampling’, como detalha o artigo da Analytics Vidhya “Bias Mitigation in Generative AI”, são instrumentais neste processo. Estes métodos ajudam os modelos generativos a garantir a representação das diversas vozes e perspetivas, e a dar mais atenção a grupos sub-representados. Esta abordagem não só auxilia as organizações a descartarem práticas discriminatórias, como também a adotarem estratégias mais inclusivas e equitativas, nutrindo assim uma força de trabalho mais diversa, dinâmica e inovadora.
- Promoção da inclusão e da diversidade no local de trabalho: Ao eliminar preconceitos humanos, os sistemas impulsionados por IA podem promover práticas de recrutamento, liderança e promoção mais justos. Além disso, as potencialidades da GenAI podem ser aproveitadas para desenvolver programas de formação que cultivem a compreensão e o respeito pela diversidade, baluartes de um ambiente de trabalho mais inclusivo e harmonioso. Descobertas do Pew Research Center apoiam esta abordagem no relatório “Diversity, Equity and Inclusion in the Workplace”, que revela que 56% dos colaboradores consideram o foco em Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) benéfico. Mais de 60% relatam ainda que as suas organizações possuem políticas justas nas fases de contratação e promoção, o que revela uma crescente consciência da importância da DEI nas estratégias organizacionais.
Refletir sobre o impacto transformador da GenAI, leva-nos a imaginar o que Alvin Toffler diria se testemunhasse o seu boom agora. Talvez ele a considerasse o verdadeiro “Choque do Futuro” desta era, uma tecnologia que não só reformula a forma como trabalhamos, aprendemos e interagimos, mas que também altera profundamente a nossa abordagem à aquisição de conhecimento e competências. Toffler, que previu as rápidas mudanças e a necessidade de adaptabilidade no futuro, poderia encarar a GenAI como a encarnação das suas previsões – uma ferramenta que nos impulsiona para um futuro onde a aprendizagem, a desaprendizagem e reaprendizagem contínuas são parte de uma nova era de desenvolvimento tão revolucionária quanto inevitável.
*Este artigo foi originalmente publicado na Training Industry.