A prova dos 5P
Soledad González, 20 janeiro, 2023
Emergência climática, crise na biodiversidade, pobreza, assimetrias sociais, conflitos bélicos ou pandemias. O mundo precisa urgentemente da ajuda de todos para responder aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e aos 5 principais eixos em que se enquadram: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias.
Como parte de uma organização dedicada à criação de soluções digitais de software alinhadas com uma política de responsabilidade social e desenvolvimento global com projetos em vários países, estou consciente do papel da tecnologia na Agenda 2030 – rumo a níveis mais elevados de crescimento económico, sustentabilidade ambiental e progresso social. Com os sistemas, dados e informações certos, acredito que seremos capazes não só de tomar o pulso às diferentes realidades, mas de gerar insights valiosos que nos permitirão agir sobre o que está (ou pode vir) a ser feito pelos 5P apresentados de seguida.
1. Pessoas
Os índices de desenvolvimento de uma sociedade estão diretamente associados à dignidade, igualdade e qualidade com que vivem as suas pessoas. É por isso que este pilar engloba o ODS 1 (Erradicar a Pobreza), ODS 2 (Erradicar a Fome), ODS 3 (Saúde de Qualidade), ODS 4 (Educação de Qualidade) e ODS 5 (Igualdade de Género).
As TI têm contribuído para criar novos empregos e otimizar os que já existem, vejamos o setor agrícola, com práticas muito mais data-driven, eficientes e human friendly. A tecnologia melhora o acesso à saúde, com aplicações de telemedicina ou software de gestão de stocks de medicamentos, gestão de pensões, planos de saúde ou vigilância e controlo de dados em contexto pandémico.
Fomenta a educação, através do e-learning, programas de cidadania ativa ou academias que desenvolvem digital skills essenciais para o futuro. Contribui ainda para tornar os serviços de habitação social, finanças ou gestão de crédito mais acessíveis e inclusivos.
2. Planeta
Este eixo abarca os ODS 6 (Água Potável e Saneamento), ODS 12 (Produção e Consumo Sustentáveis), ODS 13 (Ação Climática), ODS 14 (Proteger a Vida Marinha) e ODS 15 (Proteger a Vida Terrestre).
A tecnologia tem ajudado o ser humano a travar a degradação ambiental e a (re)conectar-se à natureza. Como disse o antigo secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, “Não existe planeta B”. Daí que o potencial das TI tenha sido aplicado na eficiência energética, criação de materiais mais sustentáveis e gestão do e-waste.
Drones, chips RFID e sensores para proteger os ecossistemas permitem acompanhar a movimentação dos glaciares, a salinidade da água ou os padrões migratórios dos animais. Também o software ajuda a gerir indicadores de recursos naturais (hídricos, minerais, etc.), saneamento ou emissões de gases com efeito de estufa, através de sistemas ágeis que monitorizam informação em tempo real.
3. Prosperidade
Este conceito integra a realização pessoal e profissional do indivíduo, mas também o desenvolvimento económico, social e tecnológico da sociedade em harmonia com a natureza. Aqui encaixam-se os ODS 7 (Energias Renováveis e Acessíveis), ODS 8 (Trabalho Digno e Crescimento Económico), ODS 9 (Indústria, Inovação e Infraestruturas), ODS 10 (Reduzir as Desigualdades) e ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis).
As TI impulsionam o desenvolvimento económico, dignificam o trabalho humano (deixando tarefas mecânicas ou perigosas para as máquinas), multiplicam as oportunidades de empreendedorismo e inovação, e permitem uma industrialização mais inclusiva.
Hoje existem ferramentas que possibilitam uma visão mais holística da gestão de RH (‘from hire to retire’), alinhada com os objetivos estratégicos e facilitadora do dia-a-dia laboral (sem duplicação desnecessária de esforços e consolidando dados relevantes numa única plataforma). Dispomos até de ecossistemas de partilha de dados que criam condições para a utilização de digital twins para melhorar a eficiência e inteligência das cidades.
Mas prosperidade também significa gerir eficientemente recursos e tempo, por isso vale a pena falar também dos sistemas que gerem infraestruturas, telecomunicações e serviços partilhados como frotas – nos quais é possível acompanhar, gerir custos operacionais e segurança, e monitorizar o serviço prestado com base em KPI personalizados.
4. Paz
Este ponto refere-se ao ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e recorda-nos como as soluções tecnológicas podem contribuir para sociedades mais pacíficas, justas e inclusivas. Sociedades que garantem o acesso universal à cidadania democratizada.
Aqui incluem-se os serviços de e-government que aproximam os cidadãos do Estado e melhoram eficácia das instituições, garantindo o acesso público à informação. Cabe também neste ponto a gestão financeira e rigorosa dos dinheiros públicos, através de sistemas de informação fiáveis que façam um controlo rigoroso e transparente dos ativos e da execução orçamental, gestão da dívida pública, gestão da cooperação, etc.
5. Parcerias
Este último P refere-se ao 17.º ODS (Parcerias para a Implementação dos Objetivos) e tem na sua essência a ideia de que o cumprimento da Agenda 2030 depende do envolvimento e da mobilização de todos. Todos os países, partes interessadas e indústrias são chamados a integrar este espírito de solidariedade global, criando redes sólidas de suporte à inclusão, à inovação e ao desenvolvimento económico.
A Global Compact Network é a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, mas há outras. E em todas elas as TI podem ajudar, quer a monitorizar dados para tornar o desenvolvimento possível, quer ao combater a lacuna de competências digitais essenciais na criação de sistemas de inovação para empresas locais e instituições de I&D potenciarem efeitos positivos na economia.
Muitos se recordarão da ‘prova dos 9’ usada para validar o resultado das operações aritméticas. Mas a prova dos 5P que dá mote a este artigo desafia-nos a muito mais que somar, subtrair, multiplicar e dividir. Desafia-nos também a validar os dados que estão na origem de todas as operações nas quais reside a chave para identificar a estratégia de cada país, valorizar os seus ativos na geração de receitas, otimizar a gestão e o controlo de despesas, fomentar a sustentabilidade ambiental, a economia e a cidadania. Trata-se de uma prova extremamente exigente para a humanidade. Mas não é impossível passar.
*Este artigo foi publicado originalmente na 20.ª edição da newDATAmagazine®.