Q-Day Conference 2024 “IA Generativa: Da euforia à mais-valia”
Com 1200 participantes (presenciais, na Culturgest de Lisboa, e também online) reunidos à volta do tema “IA Generativa: da Euforia à Mais-Valia”, a 15.ª edição da Q-Day Conference mostrou como esta tecnologia está a ser utilizada para criar valor e impulsionar a inovação, a eficiência, as competências e o crescimento sustentável em Portugal e no mundo.
Sessão de Abertura
Alberto Rodrigues da Silva, Secretário de Estado da Modernização e Digitalização, partilhou algumas iniciativas levadas a cabo pelo Estado Português, algumas financiadas ao abrigo do PRR, uma aposta estratégica para que os serviços públicos possam responder com simplicidade, flexibilidade e inclusão às necessidades dos cidadãos. Neste contexto, em 2025, será lançada a App.Gov.pt, “uma parte da estratégia para garantir que Portugal se posiciona na vanguarda da transformação digital”, referiu.
Maj Tellefsen, Head of Economic Affairs & Trade na Embaixada da Dinamarca em Portugal, discorreu sobre a forma como parcerias internacionais entre os dois países podem aumentar a competitividade da UE e desbloquear novas oportunidades de crescimento e expansão no mercado global. Em 2019, a Dinamarca já possuía uma estratégia de IA definida. Hoje, a IA está presente nos vários setores da sociedade, dos transportes à saúde, e tem servido para responder às necessidades dos cidadãos.
Painel 1 – “IA Generativa: da Euforia à Mais-Valia | Visão Global com Execução Local” Moderação de Joana Petiz, Jornalista e Diretora Editorial do Sapo
Antonio Neto da Silva, CEO do Instituto de Formação Bancária, abordou o impacto da IA Generativa na Economia Global, com o aumento da produtividade, os novos setores tecnológicos e a transformação do mercado de trabalho; mas também o impacto na Gestão, Competição, Estratégia e Inovação, entre outos. O orador acredita ainda que “os países, empresas e indivíduos que se adaptarem a estas mudanças mais rapidamente serão capazes de aproveitar todo o potencial da IA para a criação de valor e avanço social, obtendo significativas vantagens competitivas que lhes permitam movimentarem-se em ‘blue oceans’.”
Bruno Oliveira, Head of Digital Hub & E-Business na SUMOL + COMPAL, sublinhou a ideia de que o Pensamento Crítico vai fazer a diferença, porque “a capacidade de pensar criticamente permite ter uma maior facilidade para ‘conversar’ com a máquina, avaliar a precisão das respostas e identificar potenciais falhas”. O orador referiu ainda que “sermos autodidatas não vai ser apenas ‘nice to have’” – vai ser um requisito obrigatório. E, aqui, “as organizações vão um papel crucial para criar um ambiente que promova a colaboração, fornecendo ferramentas adequadas, tempo e incentivo para que os colaboradores possam trabalhar juntos de forma contínua e eficiente.”
João Paulo Carvalho, Co-fundador e Senior Partner na Quidgest, começou a apresentação sugerindo que devemos abandonar o papel de “meros espetadores entusiastas” (a euforia, o buzz) para nos constituirmos participantes ativos desta revolução tecnológica que é a IA Generativa (a mais-valia, o business). O orador apresentou 8 possibilidade de abraçar e criar valor com a IA Generativa e destacou a importância de utilizar a IA de forma estratégica, explicando que a verdadeira vantagem competitiva surge da combinação da IA com o conhecimento humano, até porque “a IA Generativa não tem um propósito; são os Humanos que lho dão!”
Painel 2 – “IA Generativa: da Euforia à Mais-Valia | Propósito e Valor para a Sociedade” Moderação de Leonor Pipa, Diretora do Link to Leaders
Luísa Ribeiro Lopes, Presidente do Conselho Diretivo da Associação DNS.PT, falou de como podemos alavancar aquilo que já fazemos humanamente bem com a ajuda das máquinas e da IA Generativa. Esta é, na opinião da oradora, a verdadeira mais-valia desta simbiose. “Mas se o fizermos sem propósito, isto não faz sentido”, referiu. É preciso requalificar as pessoas para a IA e para os novos milhões de profissões que estão a surgir. A IA pode ajudar no ordenamento do território, no combate às alterações climáticas e em outras muitas áreas; mas existe ainda um grande grupo de pessoas excluídas desta transformação digital, alertou.
Adolfo Mesquita Nunes, Partner na Pérez-Llorca Sociedade de Advogados, deixou bem claro que IA Generativa não é um assunto exclusivo das TI. É um tema que extravasa as preocupações tecnológicas e exige um plano estratégico claro com políticas de governança estabelecidas. As organizações precisam de definir como utilizar esta nova tecnologia, estabelecer limites éticos, garantir a conformidade legal e supervisionar a sua implementação de forma responsável – protegendo-se inclusivamente com contratos que incluem uma análise de risco.
Pedro Fradinho Marques, Head of Advanced Analytics and Intelligence nos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, explicou como a IA Generativa está a ser utilizada para liderar a transformação dos serviços públicos na Saúde. Entre os projetos apresentados, está um Datalake que visa melhorar a análise de dados, dar suporte à tomada de decisão, promover a inovação e a investigação, viabilizar modelos de prospeção de dados e IA, bem como partilhar dados transfronteiriços. O orador apresentou ainda a Speech-to-text & NLP, que pretende converter a conversa entre o utente e o profissional de saúde em texto para, posteriormente, ser transformada em dados clínicos e ações rápidas associadas (diários clínicos, vigilâncias, prescrição, etc.).
António Guedes de Amorim, Sales Director na Quidgest, referiu que o impacto da IA Generativa na Gestão Pública tem servido para melhorar a eficiência de processos, como a classificação de informações submetidas por cidadãos em portais públicos, e o encaminhamento dessas informações para os departamentos adequados. Para o orador, há muitas oportunidades para promover o valor na Gestão Pública através da IA Generativa, tendo em conta que “a Administração Pública tem sede de inovação; a engenharia portuguesa é espetacular; a Academia está envolvida e acompanha ou lidera, e o potencial de evolução não tem limites”.
Vencedores dos Prémios de Co-Inovação
Os Prémios de Co-Inovação reconhecem e homenageiam os pioneiros, os visionários e todos aqueles que, com coragem e determinação, lideram a transformação digital dentro do ecossistema Quidgest. Conheça os vencedores e algumas das principais ideias-chave partilhadas no palco da Q-Day Conference 2024:
- Prémio de Co-inovação Clientes com História | Turismo Portugal
- Prémio de Co-inovação Clientes com História | Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo
- Prémio de Co-inovação Ágil | Exército Português
- Prémio de Co-inovação Excelência Estratégica | Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social
- Prémio de Co-inovação Palavra com Impacto | Cidália Oliveira, “Sucesso na Implementação do BSC em Organizações Públicas e Privadas”
- Prémio de Co-inovação Para a Comunidade Local | Cascais Envolvente
- Prémio de Co-inovação Impacto Digital | Direção Geral do Território
- Prémio de Co-inovação para a Modernização Administrativa | Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros
- Prémio de Co-inovação para a Igualdade e Inclusão | Câmara Municipal de Famalicão
- Prémio de Co-inovação Contínua | Las Training
- Prémio de Co-inovação para o Desenvolvimento Sustentável | Agência para a Energia
- Prémio de Co-inovação Internacional | Agência Nacional de Proteção de Dados Pessoais de S. Tomé e Príncipe
- Prémio de Co-inovação Parceiro Nacional | GTE Consultores
- Prémio de Co-inovação Conectar para o Futuro | Instituto Politécnico de Coimbra
- Prémio de Co-inovação Ciência e Academia | Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa
Painel 3 – “IA Generativa: da Euforia à Mais-Valia | Ecossistemas Empresariais e de Inovação” Moderação de Besma Kraiem, Sócia Fundadora da IBK International Business Consulting
Madalena Talone, Executive Board Member na Caixa Geral de Depósitos, apresentou uma abordagem de 3 níveis adotada pela CGD, que envolve a colaboração com fornecedores de software para integração de recursos de IA Generativa, a adoção de soluções de IA específicas para o setor através de FinTech, e o desenvolvimento interno de soluções de IA personalizadas com tecnologias de código aberto. Avanços que incluem o assistente virtual da CGD – responsável pela realização de 2 milhões de transações para 12 milhões de clientes no primeiro semestre de 2024. A CGD também alcançou os “60% de automação sem intervenção humana” e processou mais de 14.000 documentos, o que resultou em reduções de custos e melhoria dos serviços.
Nuno Brás, Partner e Co-founder da DareData Engineering, explicou que “o valor extraordinário, mas pouco claro, da IA Generativa tem gerado um enorme investimento em hardware”. Para apoiar esta teoria, o orador falou da pressão económica criada por este investimento e usou a metáfora de um “estranho cocktail”, que combina competências incríveis (mas difusas), pressão ao nível das aplicações, “técnicas pouco claras para lidar com novas tecnologias, falta de estratégia de dados e muitas empresas de serviços que se apresentam repentinamente como ‘especialistas’ em IA. Tudo isto misturado com o FOMO dos líderes – o medo de ficar de fora.
Sofia Rolo, Project Manager na Unicorn Factory Lisboa, descreveu a visão da plataforma onde trabalha: “criar um ecossistema de classe mundial em Lisboa” que ajude empreendedores a iniciarem, expandirem e escalarem as suas ideias de negócio. O investimento em IA está a crescer rapidamente em Portugal, com projeções que ultrapassam os 100 milhões de euros até ao final de 2024, segundo a IDC. No entanto, um dos principais desafios para as empresas portuguesas continua a ser a dificuldade de contratar profissionais com competências digitais adequadas, referiu a oradora.
Marcelo Ribeiro, Generative AI Strategist na Quidgest, referiu que “a IA está a avançar a um ritmo incrível”. Neste contexto, a Quidgest lançou várias soluções que combinam IA Simbólica e Neuronal (IA Híbrida): uma ferramenta que transcreve e resume arquivos de áudio longos em segundos; outra que automatiza a criação de propostas preenchendo extensos campos; tradução instantânea de idiomas em soluções de software multilíngue; e até mesmo a definição de um mapa estratégico Balanced Scorecard em apenas alguns minutos. Estas novas ferramentas criam valor ao aumentar a produtividade, adaptando-se às regras de negócio existentes e dando às equipas mais tempo e foco para se dedicarem à inovação e ao crescimento estratégico.
Sessão com País Convidado – Dinamarca Moderação de Sandra Mateus, Director for Strategic Opportunities e World Wide Public Sector na Microsoft
Mikkel Frich, Consultor de Transformação Digital, focou-se na importância da digitalização do setor público para alcançar um desenvolvimento sustentável e equitativo. O orador destacou que a digitalização pública deve ser democrática, colaborativa e centrada no ser humano, e apontou que é tanto uma questão de cultura quanto de tecnologia. Outro tema central foi a necessidade de uma abordagem sistémica para a transformação digital, na qual nenhuma entidade única domine. Isto envolve promover a colaboração entre os setores público e empresarial, garantindo transparência, responsabilidade e o uso ético da IA.
David Pereira de Castro, Presidente do Conselho de Administração da SPOT Nordic, destacou na sua mensagem que Portugal e Dinamarca são dois países que “podem aprender muito um com o outro”. A Dinamarca pode aprender com Portugal a expandir a colaboração internacional, a criar sandboxes para regulação e a melhorar os programas de requalificação. Já Portugal pode beneficiar da abordagem dinamarquesa para desenvolver um selo de cibersegurança e ética no tratamento de dados, fortalecer as parcerias público-privadas e implementar uma legislação abrangente de IA.
Mikkel Solnado, CEO na Great Dane Studios e Visible-Agency, e Consultor de IA, sublinhou o papel da IA na transformação dos modelos de negócios, especialmente para os solopreneurs. O orador, que fez a transição da indústria musical para o mundo do empreendedorismo, mostrou como a IA pode ajudar um único indivíduo a realizar tarefas antes só possíveis de concluir por equipas inteiras. Estes solopreneurs podem aproveitar a IA em várias etapas do negócio – desde o branding e marketing até ao contacto com clientes e a otimização de SEO. Mas existem desafios, como a “redução de oportunidades de emprego” e “ambientes de trabalho mais isolados”, referiu.
Susanna Coghlan, Europe Business Development Manager na Quidgest, destacou que o sucesso da Dinamarca na transformação digital está bastante alinhado com a missão da Quidgest, porque “criar um modelo de dados é o ponto de partida para cada novo software desenvolvido na Quidgest”. A oradora mencionou também o trabalho em curso da Quidgest na Dinamarca, que se baseia na experiência da empresa na gestão e integração de sistemas de informação complexos nos setores público e empresarial. “Mas, claro, não fazemos isso sozinhos”, explicou, referindo que as parcerias sempre foram centrais para a estratégia internacional da Quidgest.
Painel 4 – “IA Generativa: da Euforia à Mais-Valia |Competências à Prova de Futuro” Moderação de Luisa Baltazar, Fundadora do HER Venture HUB
Luís Espírito Santo, investigador especializado em IA Generativa e Criatividade Computacional, apresentou algumas caraterísticas-chave para identificar competências à prova de futuro, focando-se no seu valor, escassez e dificuldade de serem automatizadas. Competências que continuam a ser valiosas, independentemente do seu contexto económico, social ou ético, e que são atualmente raras, mas adquiríveis e essenciais para o futuro. O orador destacou uma lista destas competências, tais como liderança, inteligência emocional, resolução de problemas e empatia, que continuarão a ser importantes independentemente dos avanços tecnológicos.
Pedro Pereira, Managing Director e Senior Partner no Boston Consulting Group, explicou que a IA Generativa complementa a IA tradicional ao permitir tarefas mais abertas e criativas. O orador comparou a IA Generativa ao “lado direito” do cérebro, mais associado à criatividade; enquanto a IA tradicional atua mais como o “lado esquerdo” do cérebro, mais próximo das tarefas lógicas e analíticas. Para rematar, Pedro Pereira referiu que, “para se manterem relevantes e capturarem o potencial da IA Generativa, as organizações devem desenvolver 5 pilares-chave: visão capacitada, novos processos, investimentos precisos, competências-chave e políticas de conformidade”.
Fernando Félix, Co-Founder & CTO na inncivio, destacou que os métodos tradicionais de aprendizagem deixaram de ser suficientes, por serem demasiado estáticos e lentos, além de não-personalizados. A IA Generativa foi apresentada como “um divisor de águas para a aprendizagem”, pois oferece jornadas de aprendizagem personalizadas e em larga escala. Foi igualmente introduzido o conceito de microlearning – sessões de aprendizagem em “pequenas doses”, flexíveis, envolventes e, por isso mesmo, capazes de melhorar a atenção, o envolvimento e a retenção do conhecimento para aplicação imediata em ambientes de trabalho dinâmicos.
Hugo Miguel Ribeiro, VP People Operations & Inclusion and Diversity na Quidgest, explorou o conceito de IA como um “nivelador” e/ou “elevador” de competências, fazendo referência ao artigo de Ethan Mollick, “Everyone is Above Average”. O orador explicou que a IA Generativa pode ajudar colaboradores menos qualificados a melhorarem o seu desempenho, ao mesmo tempo que permite aos colaboradores mais talentosos alcançarem patamares superiores de produtividade e inovação. No entanto, a chave para manter a competitividade continua a estar na colaboração: “esta ideia de colaboração com a IA faz parte da filosofia da Quidgest, com a nossa plataforma Genio, onde os não-programadores – os citizen developers – colaboram de forma eficaz com a IA para desenvolver software, sem precisarem de saber programar”, concluiu.
15 anos de Q-Day Conference
A Q-Day Conference chegou às 15 edições dedicadas à transformação digital. Sendo já um evento de referência no calendário nacional, o Q-Day reúne especialistas, dirigentes e pensadores de diversas áreas. Desde a primeira edição, já debatemos os seguintes temas:
- 2009: “Inovação contra a Crise”
- 2010: “Inovação AAA+”
- 2011: “Vencer o Adamastor”
- 2012: “A Rota das Exportações”
- 2013: “Building the Future”
- 2014: “Decidir Melhor”
- 2015: “Inteligência Estratégica”
- 2016: “Portugal: Sun, Sea & Software”
- 2017: “O Ano da Transformação Digital”
- 2018: “Hyper Agile, Lean & Machine Learning”
- 2019: “The New Spring of Artificial Intelligence and Models”
- 2021: “SDG 2030 – Sustainable Development Goals”
- 2022: “Inovação a partir de dentro”
- 2023: “Descodificar a IA Generativa”
- 2024: “IA Generativa: da Euforia à Mais-valia”